quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sexta-feira, 4 de Novembro de 2011

Hoje eu consegui tirar o dia pra mim. Eu adoro me reunir com minha mãe e minha tia, mas eu precisava só de um dia!

Acordei bem cedo. Ainda estavam todos dormindo quando fui sozinha até a floresta, e o sol ainda estava começando a surgir. A grama ainda estava um pouco úmida, os pássaros ainda cantavam sonolentos, e eu, somente eu, era a única totalmente acordada.

Na entradinha da floresta, começava uma trilha. Eu já estava armada com um bom jeans, botas, blusa de manga comprida e uma mochila com lanches, garrafas de água, celular e fones de ouvido (boa música, claro!) caderno e livro. Eu planejei passar o dia na floresta, então, deixei um recado pra minha familia. Nem o Bruxus iria comigo.

O Caim ainda não tinha voltado de viagem, mas nos falávamos regularmente por email ou por telefone. Ele disse que voltaria para o Natal, e que a melhor coisa que eu fiz foi mesmo ficar na casa da minha mãe até ele voltar. Mas eu não estava pensando nele. Estava mais pensativa sobre as coisas que eu vinha aprendendo sobre minha família e sobre mim. Eu pensava que ia ficar muito brava ou chocada com minha mãe por ter escondido de mim esses anos todos que eu era uma bruxa. Pelo contrário...! Eu adorei saber! Achei que aprender feitiços, magias e encantamentos seria dificil, mas nesses 3 meses já consigo dominar praticamente tudo o que é preciso. Eu aprendo rápido!

Tudo fazia mais sentido agora. Enquanto caminhava pela floresta entendi porque minha mãe se chamava Dionísia e porque minha tia estava sempre com uma garrafa de bebida na mão! Minha mãe e minha tia eram Sacerdotisas de Baco, e meu irmão, um bruxo elemental. Realmente explica porque as duas viviam bebendo vinho e porque meu irmão sempre colocava fogo nas coisas quando pequeno. E eu? Sou uma bruxa elemental como meu irmão, mas não tão poderosa... Meu verdadeiro poder está na natureza. Eu controlo plantas, animais e clima.

Caminhando pela trilha, fui lembrando de quando eu e meu irmão corriamos por aqui com nosso avô. Ele nos acordava muito cedo e nos levava para o lago para pescar. Ficávamos até a hora do almoço rindo, pescando e comendo frutinhas de arbustos próximos. Éramos nós e os 4 Sheepdogs da minha mãe - Paul, George, Ringo e John (não perguntem! rs).

Lembrei também de quando eu aprendi a fugir de casa. Minha mãe sempre vinha com a conversa de que eu não deveria andar sozinha pela floresta à noite pois os tigres poderiam me comer. Meu avô também. Os dois se esforçavam por me dar esse conselho quando na verdade eu sabia que algo estava errado. Não existem tigres livres na Inglaterra. A primeira vez que fugi, eu tinha 5 anos. Minha mãe me colocou para dormir dizendo: "Boa noite, minha boneca! E não adianta tentar correr por ai. A porta da cozinha está muito bem trancada!" Ela sabia o que eu ia fazer.

Assim que ela saiu do meu quarto, sai da cama e ouvi ela e meu avô rindo. Eles sabiam que eu ia correr. Corri pra floresta, afinal, dica grosseira assim uma criança de 5 anos entende! Eu corri sozinha pela trilha até cair no chão de tão cansada. A noite era fria, e eu estava usando pantufinhas, camisola, e um casaquinho de tricô. Lá deitada, enquanto me recuperava, fiquei observando as estrelas e comecei a conversar com as plantinhas ao meu redor. "Mamãe sabe que não existem tigres em Liverpool! Vou voltar pra casa e dizer a ela que eu encontrei um só para ver a cara dela!"

"E se a sua mãe tiver razão?"

Eu levantei e olhei assustada em volta. Achei que não tinha nada por ali até ele sair do meio dos arbustos e se sentar na minha frente. Ele sorria, e me deixou com uma sensação tão impressionante de segurança que eu corri e o abracei. O pêlo dele era grosso, macio e liso. Suas patas eram maiores do que a minha cabeça, e possuiam garras tão grandes e afiadas que levariam segundos para destroçar uma barra de ferro. Seu rabo era comprido, e suas orelhas grandes e redondas, levemente pontudas. Suas listras eram tão negras como a noite, e seu corpo se dividia entre um branco e laranja. Sua cabeça era enorme, seus dentes tão pontudos e afiados como suas garras e seus olhos eram de um azul céu hipnotizante.

"Você é menor do que eu imaginava, criança!"

Foi assim que eu conheci Amba.
Meu melhor amigo por toda a minha infância, meu "tigre-de-guarda".



E enquanto eu pensava nas minhas memórias, quase chegando ao mesmo lugar onde conheci Amba, uma voz grave e grossa me tirou das minhas lembranças.

"Eu estive com saudade..!" - ele disse.

Eu corri para abraçá-lo e comecei a chorar. Eu estava com meu melhor amigo de novo.

3, de Novembro, de 2011

Interior de Liverpool.

Liverpool me parece uma cidade sombria hoje. Faz 3 meses que estou aqui e muita coisa mudou na minha vida. Muita coisa mesmo!

Desde que cheguei foram feitas várias reuniões de família. Reuniões onde eu, meu irmão, minha mãe e minha tia (e os bichos, claro!) se reuniam para tratar da história da família e também de magia.