Meu dia foi normal. Sem nenhum acontecimento marcante ou bizarro. E a chuva que começou a cair durante a manhã foi a única parte incômoda do dia, pois ela perdurou até o meio da tarde.
Voltando para casa, hoje no fim da tarde por volta das 19:30, deparei-me com uma cena fora de rotina: uma árvore caiu e destruiu parte de duas casas. Eu nunca tinha visto isso, e não me lembro de a chuva ter se transformado em tempestade em qualquer região da cidade; e nem mesmo ventos fortes foram detectados para que as pessoas entrassem em alerta. O que a derrubou então?
Conforme fui me aproximando dos destroços, foi sendo possivel distinguir onde exatamente a árvore tinha cedido, mas era dificil definir se foi coisa da natureza ou do homem. A árvore estava cheia de buracos mas eu não sabia dizer se ela estava podre.
Eu sou muito curiosa. E o fato de uma árvore estar caida sem aparentar podridão é o suficiente para despertar em mim uma curiosidade de dar orgulho à Sherlock Holmes. Eu precisava saber o que tinha acontecido. Eu estava tão curiosa que não notei a noite chegar, não notei a garoa recomeçar, e não notei o bêbado que me observava do outro lado da rua.... até ele gritar para mim.
- Moça! Ei moça! Você não deveria se aproximar dessa árvore! Ela caiu porque é maldita! Você deveria passar por aqui onde estou, é mais seguro!
Olhei para o bêbado, e olhei para a árvore. Olhei para o bêbado novamente e percebi que ele estava sem calça; olhei para a árvore novamente e percebi que haviam morcegos dentro dela. Antes que o bêbado pudesse gritar outra vez, eu já estava caminhando na direção dos morcegos. Cismei que o bêbado ia me seguir. E ele realmente o fez. Tive que parar minha análise sobre a árvore antes do que eu queria para me preocupar em despistá-lo. Para mim, foi tarde demais.
No mesmo instante em que percebi o bêbado me alcançando, um homem pulou na minha frente, me abraçou, me deu um beijo e disse todo feliz:
- Querida! Já estava ficando preocupado! - e olhando para o bêbado, completou: - Quem é você, seguindo minha esposa?
Só não entrei em desespero pois eu só conhecia um homem com uma voz tão aveludada, não muito grave, e muito sedutora. E o toque daquelas mãos frias ao redor da minha cintura me acalmaram. Mais uma vez, e inesperadamente, o Caim aparecia na minha vida.
O bêbado se assustou com o tamanho do Caim, deixou cair sua garrafa de cerveja, fechou a jaqueta, pediu desculpa e saiu correndo - correndo e tropeçando, devo dizer. Caim olhou para mim perguntando se eu estava bem e logo voltou sua atenção para a árvore. Eu entendi que ele já estava por lá antes de eu aparecer.
- Caim, você viu o que derrubou essa árvore? Deve ter sido um vento e tanto!
- Não foi o vento.
- Não? Será então o pessoal da companhia de eletricidade para evitar que os galhos alcancem os fios de energia?
- Não.
- Algum trator desgovernado?
- Não.
- Ah, sei, um dinossauro?! Godzilla?! Frankenstein???
- Não!
Ele não ia me dizer. E pela primeira vez, o vi sério, pensativo. Pela primeira vez ele estava me assustando.
- Caim? Você está me assustando. O que fez isso? Quem fez isso? E esses morcegos?
- Os morcegos moram ai e não pretendem sair... Faremos o seguinte, vou te levar até sua casa, e ficarei por lá pelo menos pelos próximos dias.
- Você vai ficar na minha casa?! A troco de quê?
- Segurança.
- Segurança contra o quê? Contra quem?!
Ele ficou em silêncio, me puxou pela mão e viemos andando até minha casa.
São 01:32 da madrugada do dia 4.
Caim está dormindo no meu quarto de hóspedes, mas eu sei que o sono dele é um sono alerta.
E ele ainda não me diz o que está acontecendo.
Só sei que enquanto ele está por perto, eu me sinto protegida e bem.
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