sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Domingo, 2 de Janeiro de 2011 - Caim, Husky e o Desconhecido.

Fui convidada pela Lorena para passar o fim de ano no sítio da família dela. A maior parte dos nossos amigos está aqui. No dia que ela me convidou, logo após o Natal, tive outra surpresa - e teria sido mais chocante se eu já não suspeitasse.

Bem, eu estava cuidando de um Husky. Lindo, grande, forte, de pelagem preta e branca e incriveis olhos azuis. E foi por causa dos olhos que dei a ele o nome de Caim. Já fazia um tempo que eu não via o Caim, mas em compensação, tinha aparecido o Husky. Eu tinha o hábito de levar o cão para passear a noite; por causa do tamanho dele e para não ser tão incomodada pelos demais transeuntes, o cair da noite era a melhor hora para passearmos. E em um dos nossos passeios, notei estar sendo seguida. Mas não dei tanta importância, até que por mais três noites a perseguição continuou. Na quarta noite, houve o contato.

Lembro que, conforme o cidadão se aproximava, menor ele parecia. E quanto mais ele se aproximava, mais o Caim - o Husky, claro - criava raizes no chão e rosnava para o sujeito. Estava muito dificil conseguir arrastar um Husky do tamanho dele para dentro do prédio. Tanto é que o sujeito nos alcançou.

Lembro até o momento em que o homem tentou investir contra mim tentando escapar dos dentes e das garras do meu cachorro. Era um homem alto, muito magro e de cabelos castanhos, curtos e penteados para cima. Ele usava uma calça jeans, coturnos e um casaco por cima. Não usava camisa, de modo que tinha o torso nu, coberto apenas pelo casaco aberto. Apesar da magreza cadavérica do homem, fiquei empressionada com a força dele. Ele conseguiu jogar meu cão pro lado e veio na minha direção, pronto pra me atacar também. Centímetros antes dele me tocar, eu pude ouvir as sirenes dos carros de policia se aproximando -  Geoff, sindico do prédio, tinha acompanhado tudo de sua sacada e chamou a policia. Só os Deuses sabem o que ele fazia na sacada, acordado a essa hora!

Quando os carros da policia já estavam estacionando e os primeiros policiais desceram, o sujeito esquisito saiu correndo. E pro meu azar, meu lindo Husky correu atrás dele, em uma fúria que eu nunca tinha visto em nenhum cachorro. Os policiais passaram a noite comigo aguardando noticias do meu cachorro, e nada. Eu o tinha perdido.

O bizarro é que... Mesmo tendo perdido um cachorro, eu sabia que ele ia voltar. E dito e feito, faltando uns 2 dias antes de eu ir viajar para o sítio da Lorena enquanto arrumava as malas, meu telefone tocou. Era o Caim. Caim humano, quero dizer. Ao telefone, ele tinha a voz cansada, e um tom meio desesperado por companhia. Quando ele chegou ao meu apartamento e abri a porta, fiquei chocada com o estado dele! Suas roupas estavam rasgadas, ele estava todo machucado e arranhando, tinha fome, frio e cansaço.

Liguei no dia seguinte perguntando a Lorena se poderia levá-lo ao sitio comigo. Ele queria muito ir. Na verdade, depois do episódio do Husky, tenho certeza de que o Caim não vai mais me deixar sozinha por nenhum segundo!

Ele prometeu que vai me contar o que aconteceu, e porque ele chegou na minha casa em estado lastimável. A caminho do sítio, notei que todos os machucados que ele tinha pelo corpo não passam, agora, de cicatrizes que vão sumindo com os dias. Sério, ainda não entendo o Caim. Que ele não é um simples taxista, ok, já deu pra notar. O que ele é?

A propósito, ele disse que sabe do cara que me atacou e vai me contar. Diz também que sabe do meu Husky e que eu não preciso me preocupar pois ele está seguro.

Eu mencionei que quando o Caim chegou em casa semi-morto ele tinha a coleira do meu cão nas mãos?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2010. - A tempestade e o Husky

Já faz dias que não vejo o Caim. Semanas, na verdade. Semanas que não o vejo, mas em compensação vi o Husky de novo. Na verdade, o tenho.

Eu estava voltando de um passeio à toa, em uma folga, quando começou a chover. Logo a chuva transformou-se em tempestade e... Achei que fosse o prenúncio de algo pior. Eu já estava perto de casa, mas mesmo assim abriguei-me em uma farmácia.

Custou alguns minutos até que eu conseguisse me adaptar a enxergar em meio a chuva para buscar pontos onde pudesse me abrigar enquanto corresse para casa. Eu já estava encharcada, e meu guarda-chuva (pobrezinho!) não estava dando conta de tamanho aguaceiro. Assim, notei que a chuva não passaria tão cedo, e eu ainda tinha bastante coisa para fazer em casa. Optei por enfrentar a tempestade e torcer para não pegar um resfriado!

Quando me decidi em sair da farmácia, antes de colocar o pé para fora do estabelecimento, eu o vi. Pêlos molhados, magro de fome, olhos azuis sem brilho e uma cara triste. Era o Husky que eu tinha visto rondando meu prédio e que me salvou de uns rapazes bêbados. O Husky que tinha o mesmo olhar interessante do Caim.

Não resisti. O Husky pedia ajuda. Atirei-me na chuva, e tratei de trazer o cachorro para o apartamento. Felizmente, meu prédio não proibe animais e com a desculpa de que eu o tinha adotado, levei-o ao meu apartamento. Sou apaixonada por cachorros, então não foi problema cuidar do Husky. Dei um banho nele, sequei-o, e encontrei algo para ele comer. Nesse primeiro dia, ele acabou com todo o meu estoque de carne, mas valeu a pena. Hoje ele está lindo e saudável.

O curioso é que ele não come ração. Só comida de gente mesmo. E nunca o vi passar mal comendo coisas que cães normalmente não comem. Desde o dia da tempestade, ele não saiu daqui. Levo-o para passear todos os dias, ele gosta quando leio para ele (tem uma preferência curiosa por literatura de terror e suspense), e dorme na cama comigo. Aos poucos, o brilho voltou aos seus olhos e eles passaram a transmitir uma sensação curiosa que eu só vejo nos olhos do Caim.

Aliás, dei um nome a ele. Caim.