segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quinta-feira, 11 de Agosto de 2011

- Oi? Mãe? Em que parte da minha vida você ia me contar que eu sou uma bruxa?
- Besta. A mamãe não está em casa. Foi ao bosque, só vai voltar à noite.
- Ah, oi pra você também, Lucca. Bem, avise a mamãe que estou indo para ai. Preciso ver vocês.
- Você vem com o Caim e o Bruxus?
- Só o Bruxus, o Caim está viajando.
- Legal! Vou avisar a mamãe quando ela voltar.

3 dias após o incidente com os lobisomens, conversei com o Caim compartilhando minha decisão de ir ficar com minha mãe até ele voltar, e ele concordou. Quando voltasse, ele me encontraria direto lá.
Eu, dona do meu próprio negócio (um Pub premiado por fazer os melhores drinks de Londres nos últimos 3 anos!), orientei os meus funcionários de que precisaria me ausentar por tempo indeterminado. Eles deveriam me ligar sempre que necessário e todos os dias me mandariam um e-mail com o relatório do dia. Era uma boa equipe, se sairiam bem.

3 dias, e eu estou pronta pra partir.

Já arrumei as minhas malas, as coisas do Bruxus (que se resumem, basicamente, a alguns brinquedos e vasilhas de água e comida) e detalhes do tipo... cancelar assinatura de jornais e revistas, assegurar minhas coisas de valor, transferir minhas contas para débito automático... Meu apartamento adquiriu um ar meio "fantasmagórico". Só era possível ver móveis, alguns eletrônicos e armários. Fiz mágica para guardar todas as minhas roupas, livros, computador e tudo o mais que coubesse em 5 malas de tamanho médio. Eu não sabia quanto tempo eu ia ficar fora, então me preveni levando quase a casa toda. Só uma pessoa sabia onde me encontrar, e essa pessoa era apenas o Caim.

-Fico feliz pela sua decisão. - ele apareceu do nada, como costumava fazer.
-Um fantasma! Quem é? - perguntou-me desconfiado Bruxus.
-Uma pessoa que você vai adorar conhecer! Onde você esteve todo esse tempo que eu precisei de você?
-Te observando. E você se saiu muito bem! Fico imensamente feliz por você ter decidido voltar pra sua mãe!
-Sim, mas... Não é pra sempre.
-Eu sei. Mas é necessário, não é? Aquele rapaz vai encontrar você, não vai?
-O Caim? Sim, vai! É o único que sabe onde estarei.
-Gosto dele. Ele gosta muito de você. E também gosto desse garotão lindo!

Bruxus se derreteu. Balançou o rabo e fez gracinhas para para ele.
Tudo pronto, entramos no carro. De Londres para Liverpool seria um caminho imensamente logo porque eu ia fazer um super desvio para Manchester - prometi coisas dos Devils para meu irmão.

-Bem, te vejo lá então?
-Sim! Já estou indo, chego lá em um instante. Quer que eu avise sua mãe?
-Não, o Lucca vai avisar.
-Então avisarei. Você conhece seu irmão, ele vai esquecer!
-Sim, vai!

Ele se despediu de mim e de Bruxus com um aceno. Devolvi o aceno e Bruxus devolveu um rosnado.

-Eu gostei dele apesar de ser um fantasma. Passou uma energia protetora muito boa para mim. Aposto que Caim também vai gostar de saber que ele está com a gente.
-Eu sabia que você ia gostar dele! Ele tambem gostou muito de você!
-Você só não me disse quem ele era..!
-Era meu Avô.

domingo, 7 de agosto de 2011

Domingo, 07 de Agosto de 2011 - O Passeio

Estamos morando juntos agora. Eu, Caim e Bruxus. Caim não abriu mão do seu apartamento luxuoso, veio morar comigo mas achou que era por bem manter um outro refúgio. Desde a inesquecível noite de St. Patrick no apartamento dele até hoje, estamos construindo um bom relacionamento. Embora seja visível que ele me esconde ainda muita coisa, isso não me incomoda. Confio nele da mesma forma. Não me causa angústia, desconfiança e nem raiva que ele me esconda coisas importantes - ele vai me contar só que ainda não é a hora. Ele mudou muito, eu mudei muito. Ele está mais sociável, minha mãe o adora, meus amigos o adoram, meus colegas de trabalho... o adoram. Eu estou mais corajosa, mais confiante, mais envolvida... parece que tenho me conhecido melhor.

Caim precisou viajar. Partiu há dois dias para o Marrocos. Ele percorrerá Marrocos, Egito e Sudão. Alguns amigos dele, arqueólogos, encontraram alguns objetos estranhos em escavações nesses países, e embora o Caim não seja exatamente um arqueólogo, é a única pessoa em quem podem confiar essas descobertas. Seja como for, estou aguardando o email dele pra me contar do que se trata! Sei que ele já chegou ao Marrocos, mais ia se encontrar com os amigos apenas amanhã.

É apenas eu e o Bruxus. O lindo, enorme e carinhoso Husky monstruoso de olhos azuis.

Antes de o Caim ir viajar, perguntei se o Bruxus tinha algum detalhe especial para o qual eu precisava me atentar. "Não se preocupe", disse ele, "tudo o que ele precisar, quando ele precisar, ele vai te dizer. Pode ficar sossegada!". Tudo bem então. Quando quer comida, ele pede - e pelos Deuses, esse cachorro come como um tigre! - e hoje ele me pediu para levá-lo para passear. E lá fomos nós.

Saímos de casa por volta das 20:00. Sempre observei o Caim passear com ele sem coleira, então fiz o mesmo (afinal, que coleira ia se fechar em volta de um pescoço tão enorme?). Bruxus pareceia muito confortável, andando ao meu lado, despreocupado com o mundo. Foi ai que ouvimos. Ouvimos um uivo longo, agudo, e próximo. Bruxus saltou na minha frente, me impedindo de continuar o caminho.

"Tudo bem, garotão. Vamos voltar pra casa. É óbvio que há um cachorro tão grande como você por aqui e eu não quero que você se meta em alguma briga e se machuque. Seu pai me mataria, eu me mataria se te acontecesse algo! Venha, Bruxus!"
"Não vamos. Não vai dar".

Pois é. Ele me respondeu. Com uma voz rouca, e grossa, que parecia um trovão. O curioso é que eu não me assustei. Não me surpreendi, não fiquei chocada, não fiquei com medo. Ouvir a voz do Bruxus me deu coragem, e então eu comecei a entender algumas coisas.

"Como assim não podemos voltar? Vamos voltar sim ...... -"
"Não vamos voltar, Alex. Já sabem que estamos aqui. Seremos obrigados a lutar com eles para afugentá-los."

Antes que eu pudesse usar a clássica "pergunta-clichê" "Eles quem, Bruxus?", um lobo gigantesco (GIGANTESCO!) saltou sobre meu cachorro agarrando-o pelo pescoço. Eles rolaram pelo asfalto em meio a rosnados, latidos e uivos. Eu não percebi que mais desses lobos gigantescos estavam se aproximando - até que ficamos cercados por 5 dessas coisas. A coragem que o Bruxus tinha me passado deu espaço ao medo; um medo tão grande, tão assustador, que eu comecei a me sentir mal. Me senti mal pelo Caim, pela minha mãe, pelos meus amigos que eu deixaria. Quero dizer, eu ia morrer atacada por lobos monstruosos, e não tinha nada que eu poderia fazer. Desmaiei.

Acordei com o Bruxus lambendo meu rosto. Mas não era mais o Bruxus. Procurei em todo o lugar pelo Husky, mas no lugar dele uma pantera negra enorme. Ele falava comigo e tentava me acordar. Estava machucado. Levantei-me e olhei ao redor: os lobos ainda estavam lá, alguns mancando, outros sorrindo com uma malicia assustadora, e alguns outros estavam se transformando em homens. Eram lobisomens.

Me levantei do chão com uma coragem que não sei de onde tirei. Eu tinha força, coragem, vida e... magia. Eu podia sentir alguma magia poderosa dentro de mim. "Chame pelo fogo", Bruxus me disse. Eu não sabia o que queria dizer, mas uma voz dentro de mim começou a me dar a mesma ordem. E ai eu chamei. Chamei em palavras estranhas, em um idioma que eu não vou saber reproduzir aqui. Mas devia ser algo entre árabe, hebraico, aramaico. Enfim. Eu chamei.

Minhas mãos começaram a pegar fogo, e na mesma hora Bruxus foi atacado por um lobo. Eu não sabia o que fazer, até que a voz dentro de mim me orientou: "Vê o fogo nas suas mãos? Ele não te queima. Não vai queimar a pantera, basta que você se concentre no lobo que quer acertar". Me concentrei e busquei atingir o lobo. Labaredas poderosas sairam da minha mão, queimaram o tal lobo, e a pantera, ilesa veio para o meu lado. Até aquele momento os lobisomens não tinham me notado completamente. Tudo aconteceu tão rápido que a partir do momento em que desmaiei, pensaram que a 'humana" tinha sido fácil demais de lidar. Não contavam com o fato de que eu tinha magia. Eu também não contava com isso. Assim que eu encinerei um deles, ficaram em alerta. Os 4 restantes perceberam que a situação não estava mais a favor deles porque a humana era mais perigosa do que eles imaginaram. Lançaram um último olhar ameaçador para mim e para o Bruxus e fugiram. E eu... Bem, desmaiei de novo.

Acordei em casa, com Bruxus já em forma de Husky de novo. Eu não tinha dor de cabeça, tontura, nada. Era como se um outro eu dentro de mim tivesse despertado. Eu queria sentir a sensação de controlar o fogo outra vez. Mas antes, eu tinha algumas perguntas a fazer para um certo alguém. Eu queria saber porque o Bruxus fala e se transforma em pantera, eu queria saber de onde veio aquele fogo e aquela magia, e eu queria saber se os lobisomens foram uma ilusão ou não. Para tudo isso, Bruxus me deu apenas uma resposta. Mandei um email para o Caim e peguei o telefone.

Só tinha uma pessoa que poderia me ajudar a pensar.

"Alô? Mãe? Em que parte da minha vida você me contaria que eu sou uma bruxa?"