sábado, 31 de dezembro de 2011

Oh chuva!

Sábado, 31 de dezembro de 2011

12:21

Chuva que cai desde cedo e não pretende párar.
Eu aqui, sentada no computador, com tanta coisa para arrumar. A principal vantagem desse "ano novo cristão" é que a maior parte do mundo pára e então me é possível fazer faxina. Ganho uma folga "non-sense", durmo o dia todo, como o dia todo, e fico sem fazer nada o dia todo.

Mentira. Dormir e comer são atividades importantíssimas!!!!

Enquanto arrumo minhas coisas fico pensando na hipocrisia à qual somos submetidos nessa época do ano. Eu não celebro o Natal como o "nascimento de Cristo", e muito menos comemoro esse "Ano Novo". Ano Novo pra mim é em julho, e Natal para mim é festa de solstício.

Acho ridiculamente interessante como a sociedade nos impõe celebrar essas duas datas.

De qualquer forma, não muda o fato de que estarei fazendo limpeza, comendo e dormindo, enquanto a maior parte das pessoas se embebeda, faz merda, celebra, viaja, sai com os amigos e tenta fazer coisas "inesqueciveis para o resto do ano".

Eu faço coisas inesquecíveis todos os dias.

#ficaadica

;)

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fato!

Sábado, 18 de dezembro de 2011.
8:00 am.

Acordei com meu celular tocando. Era o alarme. Abri os olhos preguiçosamente, olhei para os lados e encarei meu quarto.

- Puta zona, hein garota!

De um lado da cama, as pelúcias espalhadas pelo chão misturadas com a roupa do dia anterior. Do outro lado da mesma, minha mochila aberta, material do curso espalhado, notebook no chão. Mas tudo bem. Era minha folga e eu ia arrumar isso.

Anyway... Me espreguicei, suspirei e olhei novamente ao redor. O sol estava invadindo meu quarto pelas frestas da janela, convidando-me a abrí-la para saudar um dia lindo e quente que começava. Levantei e abri... a porta. Silêncio. Olhei para as portas dos quartos do meu irmão e da minha mãe. Portas abertas, quartos arrumados... porém... ninguém.

- Devem ter saido pra fazer compras - pensei.

Quando comecei a descer as escadas ouvi passos. Olhei para trás e nada. Ignorei. Vai ver era a sensação do despertar me pregando peças.
Caminhei até a sala, liguei a televisão no canal de esportes e fui para a cozinha. Meu time estaria jogando a final do mundial de clubes, e eu não ia perder!
Enquanto preparava meu café da manhã, ouvi os passos de novo. Olhei ao redor da cozinha e nada. "Será que tem alguém invisivel aqui?! Putz, tipo um fantasma?!", pensei comigo mesma. Resolvi, mais uma vez, dar as costas para isso. Não devia ser nada. Com certeza era algum barulho na rua.

8:30 am.

O jogo ia começar. Meu café da manhã, bem arrumado na sala, meu irmão e minha mãe em algum lugar da cidade, e eu, de pijama, ansiosa por um jogo de futebol. Ai eu ouvi de novo. Andando atrás do sofá. Me virei e nada!! Os passos correram escada acima, e, decidida a descobrir o que era aquilo, esqueci o jogo e fui atrás.
Os passos logo se transformaram em barulhos diferentes, como se alguém estivesse bagunçando em algum lugar.

MEU QUARTO!!!!

Meu quarto era o caos. Não que antes não o fosse, mas estava pior. Lençóis e cobertas espalhadas, livros caídos, pelúcias jogadas!!!!! Absurdo!

- Mas que diabo!!!!

E foi ai que eu o vi. Sentado no chão do meu quarto, olhando apreensivo pela janela. A cortina, caia sobre sua cabeça cobrindo-o. Parecia um fantasma.

Andei em sua direção decidida. Alcancei-o, puxei a cortina e o encarei.

Ele me encarou com aqueles olhos cor de mel brilhantes, aquela cara endiabrada e....

- Caramba, Draco!

Latiu para mim e começou a lamber minhas mãos. Impossível dar uma bronca nesse cachorro! Peste!

Puxei ele pela orelha, descemos até a sala e eu voltei a assistir o jogo. Ele sentou no sofá ao meu lado e ficou observando o movimento da rua.

Abracei ele, e, juntos, comemoramos o primeiro gol do Barcelona.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Inquisição. 14 de Dezembro de 1184

Tentei, com todo o cuidado do mundo, que aquela maldita porta não fizesse aquele maldito barulho que acordaria aqueles malditos cães que acordariam minha mãe, que, por fim, me irritaria com seus malditos comentários.

Malditos!

Encostei a mão na maçaneta e sussurrei para ela. "Vai ter que dar", pensei.

NHEEEEEEEEEEEEEEEEEEECCC!

- PORRA! - gritei!

Luzes se acenderam, os cães começaram a latir, e minha mãe veio berrando xingamentos em italiano - e entre os xingamentos, meu nome, é claro.

- Chiara! Quantas vezes eu já lhe disse?! Quantas vezes mais terei que repetir?!
- Ah mãe, me deixa! Não aconteceu nada! Eu sei me cuidar!! Ninguém anda nessa floresta a não ser nós! E gente como nós!
- Chiara!
- Mãe, está tudo bem! Eu sai para caminhar e perdi a hora! Veja, voltei antes das 3:33!
- Eu sei filha! Mas...
- O quê? Passei o dia na cidade, estava com as meninas, pode perguntar!
- O Cardeal esteve aqui, filha.

Empalideci. A presença do Cardeal em casa era pior do que qualquer castigo. Será que ele tinha descoberto?
Pela expressão serena da minha mãe, e pela calma anormal dela alguma coisa estava para acontecer ou alguma noticia ruim o Cardeal havia lhe dado. Fomos até a cozinha, acendemos algumas velas e nos sentamos. Minha mãe pegou dois cálices e uma garrafa de hidromel. Os cães haviam parado de latir e se deitaram embaixo da mesa.

- Filha, começou. Agora, mais do que nunca, você precisa parar com seus passeios noturnos. Não me olhe com essa cara, mas você precisa! O Cardeal disse que representantes da Espanha estão vindo ajudar nas buscas e caçadas. você está proibida de ficar fora de casa após às 18:00.
- Mas mãe, ninguém sabe de nada! E como farei com meus amigos?!
- Você pode vê-los até às 18:00 ou convidá-los para passar alguns dias aqui. A casa é grande, temos quartos disponíveis e nossos criados adorarão se ocupar com tarefas diferentes nesses dias que virão. E além do mais, eu gosto dos seus amigos! E os cães também!

Fiquei encarando minha mãe por vários minutos. Geralmente negociariamos a solução, mas dessa vez eu vi que não haveria negociação alguma. Ela havia se decidido, e só me restava agir conforme ela mandava.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Dead Zone - 09/12/2011

Acordei às 10:00 am. Não sozinha, nem com o despertador. Acordei com empurrões e gritos. E como se apenas empurrões e gritos não fossem suficientes, algum idiota resolveu virar meu colchão fazendo com que eu caísse no chão. Esse idiota era meu marido, Said.


- استيقظ! يرجى أعقاب تصل! استيقظ! يرجى أعقاب تصل! - ele gritava sem parar. O único defeito dele era se desesperar em árabe. Toda vez que ele ficava nervoso, ansioso ou amedrontado ele se expressava em árabe. Eu sou fluente no idioma, mas não adianta nada minha fluência quando ele resolve gritar 1000 palavras por segundo!


- سهلة! الهدوء ، ما هو؟ سعيد إبطاء،! - do chão, gritei pra ele se acalmar. Aos poucos ele foi se acalmando, respirando e devagar disse no seu inglês cheio de sotaque:


- Desculpa, meu amor. Mas não pode dormir mais! Precisamos sair! Nós achava que mais uma semana poderia descansar, mas eles aqui agora!


Said ajudou-me a levantar. Arrumar a bagunça de lençóis e colchão? Nem pensar! Se eles haviam nos alcançado, era bom fugirmos logo. Enchemos 3 mochilas e uma bolsa com tudo o que pudemos, corremos até a caminhonete que nos aguardava, o motorista deu a partida e então fugimos. Um comboio com 4 caminhonetes, dois sedans e uma van. Não éramos muitos, éramos 12 ou 13, mas carregávamos coisas suficientes para viver uma confortável vida fugitiva.


E foi assim que abandonamos o acapamento militar (que já estava abandonado quando o encontramos!). E foi assim, que cruzamos a fronteira do Líbano para entrar na Síria.


Não sabemos de verdade o que está acontecendo. Quando estávamos em Beirute, sabíamos o seguinte:


Um cara "A", funcionário de uma empresa química-biológica-genética-ou-algo-do-tipo "B" nos Estados Unidos, saiu de férias coincidindo com o fato de estar resfriado. Ok. Durante suas férias, pegou um avião para a Espanha, desconsiderando o fato de que seu resfriado só piorava. De férias na Espanha, deu entrada no hospital "C" e após uma semana internado, ele morreu. Mandaram o corpo do individuo "A" de volta para os Estados Unidos, e durante seu velório ele ressuscitou e começou a atacar as pessoas. Ao mesmo tempo, outros ataques começaram a acontecer também nos E.U.A., na Inglaterra, Espanha, França, Brasil e Japão. O resfriado do homem "A" passou para outras pessoas no avião que o levou à Espanha (descobriram puxando a lista de passageiros do vôo dele) e essas pessoas ao voltarem para seus países de origem também foram hospitalizadas, morreram, ressuscitaram e começaram a atacar pessoas. De início descobriram que o tal "resfriado D" levava pelo menos duas semanas para se instalar e se desenvolver na pessoa, para então matá-la e ressuscitá-la; logo, cogitou-se a idéia de isolar os bairros onde os primeiros ataques começaram e a ir atrás de toda a lista de passageiros onde se encontrava o nosso amigo "A". Algo lógico, certo? O problema é que o tal vírus "D" começou a se adaptar cada vez mais rápido ao organismo humano diminuindo seu periodo de incubação. Logo, não foi suficiente ir atrás dos passageiros do vôo do homem "A" e isolar seus bairros, foi necessário isolar suas cidades devido à agilidade com a qual o vírus "D" estava agindo.

Faziam 2 meses que tudo aconteceu. 2 meses que eu estava no Líbano com meu marido visitando a família dele. 2 meses conversando por emails e telefonemas com minha familia na Inglaterra. Minha cidade, Liverpool, não foi afetada, graças a Deus. Nem a do meu marido, Byblos. Os focos ainda eram E.U.A., Inglaterra, Brasil, Japão, França e Espanha. Insisti para minha mãe e meu irmão voltarem para a Grécia (meu país de origem) e vou encontrá-los lá.

Hoje, faz 1 mês que saímos de Byblos e nos refugiamos em Aarida, mais ao norte. Acompanhando o noticiário e a internet, descobrimos que sauditas, iraquianos, indianos e afegãos "resfriados" voltaram da Europa e contaminaram seus países. Para contaminar o Libano é um pulo! Por sorte, a família do meu marido que reside aqui é pequena. São os pais dele, o cachorro, a irmã com o marido e os dois filhos. O resto da família está dispersa pela Europa e outros países árabes. Está fácil fugir.

Foi assim que descobrimos focos de contágio próximos ao Líbano. Deixamos Beirute imediatamente ao saber que as pessoas estavam começando a invadir as fronteiras dos países vizinhos para fugir de seus bairros contaminados. Nossa meta é chegar até a Grécia onde minha família tem grandes propriedades.

Deu merda no mundo. Não me surpreende ter começado nos Estados Unidos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Segunda-feira, 05 de Dezembro de 2011

Notícias do Caim! Não tão boas como eu gostaria que fossem... Ele está preso onde quer que esteja e não virá para o Natal. Não sabe exatamente quando volta, mas volta.

Natal?
Nascimento do Deus, quero dizer!

Estamos preparando a casa e as terras ao redor para receber o resto da família - e de seus animais. Bem, cada membro da família é protegido por algum animal. O meu protetor é Amba, um tigre. Meu irmão é protegido por Dracco, um dragão; minha mãe por Piccolo, um GIGANTESCO urso polar! - e por ai vai. Vai ser uma reunião muito interessante! Faz anos que não vejo a familia reunida!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sexta-feira, 4 de Novembro de 2011

Hoje eu consegui tirar o dia pra mim. Eu adoro me reunir com minha mãe e minha tia, mas eu precisava só de um dia!

Acordei bem cedo. Ainda estavam todos dormindo quando fui sozinha até a floresta, e o sol ainda estava começando a surgir. A grama ainda estava um pouco úmida, os pássaros ainda cantavam sonolentos, e eu, somente eu, era a única totalmente acordada.

Na entradinha da floresta, começava uma trilha. Eu já estava armada com um bom jeans, botas, blusa de manga comprida e uma mochila com lanches, garrafas de água, celular e fones de ouvido (boa música, claro!) caderno e livro. Eu planejei passar o dia na floresta, então, deixei um recado pra minha familia. Nem o Bruxus iria comigo.

O Caim ainda não tinha voltado de viagem, mas nos falávamos regularmente por email ou por telefone. Ele disse que voltaria para o Natal, e que a melhor coisa que eu fiz foi mesmo ficar na casa da minha mãe até ele voltar. Mas eu não estava pensando nele. Estava mais pensativa sobre as coisas que eu vinha aprendendo sobre minha família e sobre mim. Eu pensava que ia ficar muito brava ou chocada com minha mãe por ter escondido de mim esses anos todos que eu era uma bruxa. Pelo contrário...! Eu adorei saber! Achei que aprender feitiços, magias e encantamentos seria dificil, mas nesses 3 meses já consigo dominar praticamente tudo o que é preciso. Eu aprendo rápido!

Tudo fazia mais sentido agora. Enquanto caminhava pela floresta entendi porque minha mãe se chamava Dionísia e porque minha tia estava sempre com uma garrafa de bebida na mão! Minha mãe e minha tia eram Sacerdotisas de Baco, e meu irmão, um bruxo elemental. Realmente explica porque as duas viviam bebendo vinho e porque meu irmão sempre colocava fogo nas coisas quando pequeno. E eu? Sou uma bruxa elemental como meu irmão, mas não tão poderosa... Meu verdadeiro poder está na natureza. Eu controlo plantas, animais e clima.

Caminhando pela trilha, fui lembrando de quando eu e meu irmão corriamos por aqui com nosso avô. Ele nos acordava muito cedo e nos levava para o lago para pescar. Ficávamos até a hora do almoço rindo, pescando e comendo frutinhas de arbustos próximos. Éramos nós e os 4 Sheepdogs da minha mãe - Paul, George, Ringo e John (não perguntem! rs).

Lembrei também de quando eu aprendi a fugir de casa. Minha mãe sempre vinha com a conversa de que eu não deveria andar sozinha pela floresta à noite pois os tigres poderiam me comer. Meu avô também. Os dois se esforçavam por me dar esse conselho quando na verdade eu sabia que algo estava errado. Não existem tigres livres na Inglaterra. A primeira vez que fugi, eu tinha 5 anos. Minha mãe me colocou para dormir dizendo: "Boa noite, minha boneca! E não adianta tentar correr por ai. A porta da cozinha está muito bem trancada!" Ela sabia o que eu ia fazer.

Assim que ela saiu do meu quarto, sai da cama e ouvi ela e meu avô rindo. Eles sabiam que eu ia correr. Corri pra floresta, afinal, dica grosseira assim uma criança de 5 anos entende! Eu corri sozinha pela trilha até cair no chão de tão cansada. A noite era fria, e eu estava usando pantufinhas, camisola, e um casaquinho de tricô. Lá deitada, enquanto me recuperava, fiquei observando as estrelas e comecei a conversar com as plantinhas ao meu redor. "Mamãe sabe que não existem tigres em Liverpool! Vou voltar pra casa e dizer a ela que eu encontrei um só para ver a cara dela!"

"E se a sua mãe tiver razão?"

Eu levantei e olhei assustada em volta. Achei que não tinha nada por ali até ele sair do meio dos arbustos e se sentar na minha frente. Ele sorria, e me deixou com uma sensação tão impressionante de segurança que eu corri e o abracei. O pêlo dele era grosso, macio e liso. Suas patas eram maiores do que a minha cabeça, e possuiam garras tão grandes e afiadas que levariam segundos para destroçar uma barra de ferro. Seu rabo era comprido, e suas orelhas grandes e redondas, levemente pontudas. Suas listras eram tão negras como a noite, e seu corpo se dividia entre um branco e laranja. Sua cabeça era enorme, seus dentes tão pontudos e afiados como suas garras e seus olhos eram de um azul céu hipnotizante.

"Você é menor do que eu imaginava, criança!"

Foi assim que eu conheci Amba.
Meu melhor amigo por toda a minha infância, meu "tigre-de-guarda".



E enquanto eu pensava nas minhas memórias, quase chegando ao mesmo lugar onde conheci Amba, uma voz grave e grossa me tirou das minhas lembranças.

"Eu estive com saudade..!" - ele disse.

Eu corri para abraçá-lo e comecei a chorar. Eu estava com meu melhor amigo de novo.

3, de Novembro, de 2011

Interior de Liverpool.

Liverpool me parece uma cidade sombria hoje. Faz 3 meses que estou aqui e muita coisa mudou na minha vida. Muita coisa mesmo!

Desde que cheguei foram feitas várias reuniões de família. Reuniões onde eu, meu irmão, minha mãe e minha tia (e os bichos, claro!) se reuniam para tratar da história da família e também de magia.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quinta-feira, 11 de Agosto de 2011

- Oi? Mãe? Em que parte da minha vida você ia me contar que eu sou uma bruxa?
- Besta. A mamãe não está em casa. Foi ao bosque, só vai voltar à noite.
- Ah, oi pra você também, Lucca. Bem, avise a mamãe que estou indo para ai. Preciso ver vocês.
- Você vem com o Caim e o Bruxus?
- Só o Bruxus, o Caim está viajando.
- Legal! Vou avisar a mamãe quando ela voltar.

3 dias após o incidente com os lobisomens, conversei com o Caim compartilhando minha decisão de ir ficar com minha mãe até ele voltar, e ele concordou. Quando voltasse, ele me encontraria direto lá.
Eu, dona do meu próprio negócio (um Pub premiado por fazer os melhores drinks de Londres nos últimos 3 anos!), orientei os meus funcionários de que precisaria me ausentar por tempo indeterminado. Eles deveriam me ligar sempre que necessário e todos os dias me mandariam um e-mail com o relatório do dia. Era uma boa equipe, se sairiam bem.

3 dias, e eu estou pronta pra partir.

Já arrumei as minhas malas, as coisas do Bruxus (que se resumem, basicamente, a alguns brinquedos e vasilhas de água e comida) e detalhes do tipo... cancelar assinatura de jornais e revistas, assegurar minhas coisas de valor, transferir minhas contas para débito automático... Meu apartamento adquiriu um ar meio "fantasmagórico". Só era possível ver móveis, alguns eletrônicos e armários. Fiz mágica para guardar todas as minhas roupas, livros, computador e tudo o mais que coubesse em 5 malas de tamanho médio. Eu não sabia quanto tempo eu ia ficar fora, então me preveni levando quase a casa toda. Só uma pessoa sabia onde me encontrar, e essa pessoa era apenas o Caim.

-Fico feliz pela sua decisão. - ele apareceu do nada, como costumava fazer.
-Um fantasma! Quem é? - perguntou-me desconfiado Bruxus.
-Uma pessoa que você vai adorar conhecer! Onde você esteve todo esse tempo que eu precisei de você?
-Te observando. E você se saiu muito bem! Fico imensamente feliz por você ter decidido voltar pra sua mãe!
-Sim, mas... Não é pra sempre.
-Eu sei. Mas é necessário, não é? Aquele rapaz vai encontrar você, não vai?
-O Caim? Sim, vai! É o único que sabe onde estarei.
-Gosto dele. Ele gosta muito de você. E também gosto desse garotão lindo!

Bruxus se derreteu. Balançou o rabo e fez gracinhas para para ele.
Tudo pronto, entramos no carro. De Londres para Liverpool seria um caminho imensamente logo porque eu ia fazer um super desvio para Manchester - prometi coisas dos Devils para meu irmão.

-Bem, te vejo lá então?
-Sim! Já estou indo, chego lá em um instante. Quer que eu avise sua mãe?
-Não, o Lucca vai avisar.
-Então avisarei. Você conhece seu irmão, ele vai esquecer!
-Sim, vai!

Ele se despediu de mim e de Bruxus com um aceno. Devolvi o aceno e Bruxus devolveu um rosnado.

-Eu gostei dele apesar de ser um fantasma. Passou uma energia protetora muito boa para mim. Aposto que Caim também vai gostar de saber que ele está com a gente.
-Eu sabia que você ia gostar dele! Ele tambem gostou muito de você!
-Você só não me disse quem ele era..!
-Era meu Avô.

domingo, 7 de agosto de 2011

Domingo, 07 de Agosto de 2011 - O Passeio

Estamos morando juntos agora. Eu, Caim e Bruxus. Caim não abriu mão do seu apartamento luxuoso, veio morar comigo mas achou que era por bem manter um outro refúgio. Desde a inesquecível noite de St. Patrick no apartamento dele até hoje, estamos construindo um bom relacionamento. Embora seja visível que ele me esconde ainda muita coisa, isso não me incomoda. Confio nele da mesma forma. Não me causa angústia, desconfiança e nem raiva que ele me esconda coisas importantes - ele vai me contar só que ainda não é a hora. Ele mudou muito, eu mudei muito. Ele está mais sociável, minha mãe o adora, meus amigos o adoram, meus colegas de trabalho... o adoram. Eu estou mais corajosa, mais confiante, mais envolvida... parece que tenho me conhecido melhor.

Caim precisou viajar. Partiu há dois dias para o Marrocos. Ele percorrerá Marrocos, Egito e Sudão. Alguns amigos dele, arqueólogos, encontraram alguns objetos estranhos em escavações nesses países, e embora o Caim não seja exatamente um arqueólogo, é a única pessoa em quem podem confiar essas descobertas. Seja como for, estou aguardando o email dele pra me contar do que se trata! Sei que ele já chegou ao Marrocos, mais ia se encontrar com os amigos apenas amanhã.

É apenas eu e o Bruxus. O lindo, enorme e carinhoso Husky monstruoso de olhos azuis.

Antes de o Caim ir viajar, perguntei se o Bruxus tinha algum detalhe especial para o qual eu precisava me atentar. "Não se preocupe", disse ele, "tudo o que ele precisar, quando ele precisar, ele vai te dizer. Pode ficar sossegada!". Tudo bem então. Quando quer comida, ele pede - e pelos Deuses, esse cachorro come como um tigre! - e hoje ele me pediu para levá-lo para passear. E lá fomos nós.

Saímos de casa por volta das 20:00. Sempre observei o Caim passear com ele sem coleira, então fiz o mesmo (afinal, que coleira ia se fechar em volta de um pescoço tão enorme?). Bruxus pareceia muito confortável, andando ao meu lado, despreocupado com o mundo. Foi ai que ouvimos. Ouvimos um uivo longo, agudo, e próximo. Bruxus saltou na minha frente, me impedindo de continuar o caminho.

"Tudo bem, garotão. Vamos voltar pra casa. É óbvio que há um cachorro tão grande como você por aqui e eu não quero que você se meta em alguma briga e se machuque. Seu pai me mataria, eu me mataria se te acontecesse algo! Venha, Bruxus!"
"Não vamos. Não vai dar".

Pois é. Ele me respondeu. Com uma voz rouca, e grossa, que parecia um trovão. O curioso é que eu não me assustei. Não me surpreendi, não fiquei chocada, não fiquei com medo. Ouvir a voz do Bruxus me deu coragem, e então eu comecei a entender algumas coisas.

"Como assim não podemos voltar? Vamos voltar sim ...... -"
"Não vamos voltar, Alex. Já sabem que estamos aqui. Seremos obrigados a lutar com eles para afugentá-los."

Antes que eu pudesse usar a clássica "pergunta-clichê" "Eles quem, Bruxus?", um lobo gigantesco (GIGANTESCO!) saltou sobre meu cachorro agarrando-o pelo pescoço. Eles rolaram pelo asfalto em meio a rosnados, latidos e uivos. Eu não percebi que mais desses lobos gigantescos estavam se aproximando - até que ficamos cercados por 5 dessas coisas. A coragem que o Bruxus tinha me passado deu espaço ao medo; um medo tão grande, tão assustador, que eu comecei a me sentir mal. Me senti mal pelo Caim, pela minha mãe, pelos meus amigos que eu deixaria. Quero dizer, eu ia morrer atacada por lobos monstruosos, e não tinha nada que eu poderia fazer. Desmaiei.

Acordei com o Bruxus lambendo meu rosto. Mas não era mais o Bruxus. Procurei em todo o lugar pelo Husky, mas no lugar dele uma pantera negra enorme. Ele falava comigo e tentava me acordar. Estava machucado. Levantei-me e olhei ao redor: os lobos ainda estavam lá, alguns mancando, outros sorrindo com uma malicia assustadora, e alguns outros estavam se transformando em homens. Eram lobisomens.

Me levantei do chão com uma coragem que não sei de onde tirei. Eu tinha força, coragem, vida e... magia. Eu podia sentir alguma magia poderosa dentro de mim. "Chame pelo fogo", Bruxus me disse. Eu não sabia o que queria dizer, mas uma voz dentro de mim começou a me dar a mesma ordem. E ai eu chamei. Chamei em palavras estranhas, em um idioma que eu não vou saber reproduzir aqui. Mas devia ser algo entre árabe, hebraico, aramaico. Enfim. Eu chamei.

Minhas mãos começaram a pegar fogo, e na mesma hora Bruxus foi atacado por um lobo. Eu não sabia o que fazer, até que a voz dentro de mim me orientou: "Vê o fogo nas suas mãos? Ele não te queima. Não vai queimar a pantera, basta que você se concentre no lobo que quer acertar". Me concentrei e busquei atingir o lobo. Labaredas poderosas sairam da minha mão, queimaram o tal lobo, e a pantera, ilesa veio para o meu lado. Até aquele momento os lobisomens não tinham me notado completamente. Tudo aconteceu tão rápido que a partir do momento em que desmaiei, pensaram que a 'humana" tinha sido fácil demais de lidar. Não contavam com o fato de que eu tinha magia. Eu também não contava com isso. Assim que eu encinerei um deles, ficaram em alerta. Os 4 restantes perceberam que a situação não estava mais a favor deles porque a humana era mais perigosa do que eles imaginaram. Lançaram um último olhar ameaçador para mim e para o Bruxus e fugiram. E eu... Bem, desmaiei de novo.

Acordei em casa, com Bruxus já em forma de Husky de novo. Eu não tinha dor de cabeça, tontura, nada. Era como se um outro eu dentro de mim tivesse despertado. Eu queria sentir a sensação de controlar o fogo outra vez. Mas antes, eu tinha algumas perguntas a fazer para um certo alguém. Eu queria saber porque o Bruxus fala e se transforma em pantera, eu queria saber de onde veio aquele fogo e aquela magia, e eu queria saber se os lobisomens foram uma ilusão ou não. Para tudo isso, Bruxus me deu apenas uma resposta. Mandei um email para o Caim e peguei o telefone.

Só tinha uma pessoa que poderia me ajudar a pensar.

"Alô? Mãe? Em que parte da minha vida você me contaria que eu sou uma bruxa?"

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Domingo, 27 de março de 2011 - A versão dele

Bem... Vou dizer o quê? Contar vantagem como muito homem, dizer que "peguei" a mais "popular da turma"? HAHAHA!!! Vou dizer que... Devo estar me apaixonando, se já não o estiver realmente. Em tantos anos, tantos países, tantas mulheres... E justo ela! Mas também, eu devia ter pensado no óbvio, no primeiro dia em que a vi e que a levei de táxi para sua casa. Foi irresistível o impulso de possuí-la, ali mesmo, no táxi. Mas não só o pai dela me mataria - se estivesse vivo - como eu não tive coragem!

Eu deveria ter imaginado que terminaria assim! Eu, apaixonado! E ela é tão... tão... O meu oposto! Princesinha mimada, cheia de amigos, de hábitos simples e caros, é isso o que ela é. E eu, cafajeste - como fui chamado toda a vida! - de atos heróicos e solitário. Como toda boa história de romance que se conta por ai... é esse o resultado! O vilão apaixonado pela mocinha! Se ela soubesse a verdade, me afastaria. Bem, não tenho certeza!

Engraçado como fazemos parte da vida um do outro de forma tão essencial. Não me imagino sem ela, e sei que ela não se imagina sem mim. A Lorena, melhor amiga dela, tem sido ótima! Só não sei se seu pai aprovaria o tipo de relação que estamos tendo... é maior do que poderíamos imaginar! Prometi cuidar dela, mas não prometi que não iria me apaixonar!

Paixão que acredito ser reciproca e que foi consumada. O que mais poderiamos fazer? Quando estávamos no meu carro e eu a levava para a casa, estávamos alterados pela bebida e isso criou o clima que nos trouxe à minha casa... Não achei que ela fosse deixar que eu a beijasse no estacionamento... mas... Ela tem um pescoço delicioso, uma boca irresistível e... Bem, eu não pude me controlar e foi muito surpreendente que ela correspondesse às minhas carícias no estacionamento! De qualquer forma a traria para conhecer meu apartamento, mas eu não estava preparado! Não para aquela noite após o St. Patrick's!

Arrisquei. Levei-a para a minha casa, nos beijamos no estacionamento do prédio, e a insegurança se apoderou de mim quando peguei na mão dela e a conduzi até o elevador. A insegurança e o medo do que iria acontecer. Embora - devo dizer - nunca tive problemas com mulheres, era a primeira vez que eu me sentia nervoso, inseguro e com medo de estragar nossa noite. Não sei porque. Talvez por estar apaixonado... quem sabe?

Assim que entramos no apartamento, o Bruxus, sonolento veio nos receber. Ela o reconheceu de imediato e ficou muito feliz por tê-lo reencontrado! Era meu Husky, preto, gigantesco de olho azul que por um tempo, enquanto eu viajei, cuidou dela para mim. Ele logo se retirou e foi dormir em um canto, atrás de um dos sofás. Mostrei o apartamento todo a ela e achei muito curioso ela ter se "apaixonado" pela minha cozinha! Servi um vinho italiano a nós dois, uma receita da época de César, e me apoiei na pia enquanto ela estava parada na minha frente e conversávamos. Era possivel ver a lua cheia da janela da cozinha, então propus apagar a luz e deixar só o brilho da lua iluminar o ambiente. Arrisquei na idéia. E ela topou com um sorriso e um olhar um tanto... provocantes! Foi a melhor idéia que eu tive!

A lua cumpriu bem o seu papel, e o ambiente ficou jogado às sombras, em um jogo de luz convidativo e sedutor que contrastava bem com os móveis pretos. Ela estava apoiada na pia ao meu lado, e enquanto conversávamos eu pude ouvir quando ela apoiou sua taça vazia no granito. Segui o seu exemplo e apoiei a minha também. Segurei uma de suas mãos, e me virei para ficar de frente para ela. Com a outra mão acariciei seu rosto e seu pescoço. Mesmo tendo tudo para "dar certo", eu ainda estava inseguro.

Meu coração bateu mais rápido quando ela soltou minha mão e me puxou pela camisa. Meu Deus! Ela me puxou devagar, e assim que ficamos bem próximos, deslizou suas mãos pelo meu peito, pela minha barriga e me envolveu em um abraço. Ela estava quente, bem quente. Eu podia ver o brilho em seus olhos, e estavam em um tom de azul que eu nunca tinha visto! Segurei-a pela cintura, e bem devagar comecei a beijá-la. Me perdi na sensação de beijar sua boca e seu pescoço. Faminto, comecei a intercalar beijos com leves mordidas, e senti meu sucesso tanto pelo calor que me consumia como pelo fato de que ela tinha desabotoado e tirado minha camisa.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Quinta-feira, 17 de março de 2011 - St. Patrick's Day

Sai com a Lorena e outros amigos para comemorar o dia de St. Patrick. Muita coisa mudou desde a viagem que fiz ao sitio dela com o Caim. Quero dizer, nada de extraordinário aconteceu - nem de fato esquisito e nem entre nós dois. Mas o fato é que as coisas mudaram.

Posso dizer que tenho trabalhado mais feliz, e o trabalho está rendendo. Os amigos não param de me telefonar, pedir conselhos, de me visitar ou me convidar para sair, e minha amizade com a Lorena (minha mehor amiga, da época da escola!) se fortificou. E não posso deixar de dizer, claro, que minha relação com o Caim também mudou. Ele faz tudo por mim: me visita, me ajuda a fazer compras, me faz companhia, passeia comigo, me agrada... se preocupa. Quem vê de fora acredita que somos um casal apaixonado em perfeita sintonia: tudo o que ele me faz, eu faço de volta. No começo tentei ser gentil, mas logo me vi correspondendo a uma amizade... A Lorena diz que eu gosto dele e jura de pé junto que ele está apaixonado por mim.

St. Patrick, encontramos a turma em um Pub no Centro. O Caim iria nos encontrar depois. O lugar estava lotado (e ainda eram 15:45 quando chegamos!), mas de todos os Pubs que pesquisamos, esse, além de ter nos atraido mais, era também o mais barato e o dono era um antigo amigo do Caim.

O começo da noite foi muito gostoso! O dono do Pub, um homem ruivo, grande, barrigudo e barbudo, claramente descendente de Irlandeses, ficou em nossa companhia o tempo todo até a chegada do Caim. Quando o Caim chegou, eles se cumprimentaram em irlandês e depois de uns minutos o dono do Pub foi checar as outras mesas.

Eu não sabia, que o Caim falava irlandês.

A noite foi muito agradável! Todos bebemos, sem exceção. Até o Caim saiu do Pub um pouco alterado! Pela primeira vez eu vi seu rosto pálido assumir um tom corado! Saímos do Pub de madrugada, o metrô não estava funcionando ainda. Por sorte, o Caim estava de carro e me levou para casa. Aliás, ele deixou de ser um simples motorista de táxi. Conforme ele dirigia, e afetado um pouco pela bebida, ele começou a me contar um pouco da sua vida. Descobri, nessa brincadeira, tudo o que eu queria e nunca soube em tantos meses de relacionamento! Ele mora sozinho, possui uma loja de artigos no bairro árabe da cidade, é de origem inglesa e mudou-se para cá há pouco tempo. Ele não é taxista, mas não soube como me explicar o porque de ter bancado um taxista comigo por vários dias; ele disse também que tem um Husky preto, e mora em uma cobertura, para ser mais exata um grande e lindo duplex. Ele adora vinhos, whiskies e cozinhar.

Achei que ele estava brincando em algumas partes por causa do efeito da bebida. Por exemplo, como um cara super-bem-de-vida resolve dar uma de taxista pra cima de uma desconhecida e fica amigo dela? Começamos um tal jogo de "acreditar e não acreditar" que o desafiei a me mostrar a verdade. Estávamos quase chegando na minha casa quando ele inverteu o caminho e seguiu na direção da casa dele. E eu não estava nem um pouco com medo.

Em cerca de meia hora chegamos ao prédio. Um prédio alto, bonito e vistoso. Possuia clube, quadras, piscina, churrasqueira, pista de corrida, área para as crianças, academia com piscina aquecida e até um pet shop. Ele cumprimentou o porteiro que devolvou o cumprimento com um sorriso acolhedor, estacionou o carro na garagem, abriu a porta para eu sair, segurou minha mão, e com a mão livre fechou a porta. Por algum motivo fútil ficamos parados, encostados no carro dele, enrolando os minutos em um clima do tipo "nos beijamos ou não nos beijamos?". Eu esperei. Esperei e vi muita malicia nos olhos deles - aliás, me surpreendi, pois também vi paixão. Os olhos dele brilhavam daquele jeito raro e lindo de quando ele se sente à vontade ou está planejando alguma gracinha! Ele abriu um sorriso, lindo, e eu retribui. E no sorriso pude notar aqueles caninos que tanto me incomodaram no nosso primeiro encontro, no táxi, quando eu voltava do trabalho e ele tentou me morder. Dessa vez, eu não estava assustada; devia ser o efeito do álcool ou o fato de que eu acreditava que ele gostava de mim e não seria capaz de me fazer mal.

Enquanto eu estava encostada no carro, ele colocou as mãos na minha cintura, aproximou o corpo de mim e a boca do meu pescoço. Eu achei que ele ia me morder. Ao invés, ele beijou meu pescoço, um beijo bem gostoso, quente e demorado que ele intercalou com pequenas mordidas. Eu abracei ele de volta e o puxei para mais perto de mim. O estacionamento estava vazio, e um pouco escuro. De olhos fechados, eu me entreguei à sensação de sentir as mãos do Caim acariciando minha cintura, seu corpo bem próximo ao meu, e sua boca a provocar os mais deliciosos arrepios no meu pescoço e na minha nuca.

Bem devagar ele foi parando de me beijar, e me olhou. O brilho que ele tinha no olhar estava mais forte, e sua face continuava corada, mas já não era mais efeito do álcool. Nem eu estava mais sob o efeito das bebidas. Ficamos nos olhando uns minutos mais, até que ele pegou na minha mão e caminhamos até o elevador.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Domingo, 2 de Janeiro de 2011 - Caim, Husky e o Desconhecido.

Fui convidada pela Lorena para passar o fim de ano no sítio da família dela. A maior parte dos nossos amigos está aqui. No dia que ela me convidou, logo após o Natal, tive outra surpresa - e teria sido mais chocante se eu já não suspeitasse.

Bem, eu estava cuidando de um Husky. Lindo, grande, forte, de pelagem preta e branca e incriveis olhos azuis. E foi por causa dos olhos que dei a ele o nome de Caim. Já fazia um tempo que eu não via o Caim, mas em compensação, tinha aparecido o Husky. Eu tinha o hábito de levar o cão para passear a noite; por causa do tamanho dele e para não ser tão incomodada pelos demais transeuntes, o cair da noite era a melhor hora para passearmos. E em um dos nossos passeios, notei estar sendo seguida. Mas não dei tanta importância, até que por mais três noites a perseguição continuou. Na quarta noite, houve o contato.

Lembro que, conforme o cidadão se aproximava, menor ele parecia. E quanto mais ele se aproximava, mais o Caim - o Husky, claro - criava raizes no chão e rosnava para o sujeito. Estava muito dificil conseguir arrastar um Husky do tamanho dele para dentro do prédio. Tanto é que o sujeito nos alcançou.

Lembro até o momento em que o homem tentou investir contra mim tentando escapar dos dentes e das garras do meu cachorro. Era um homem alto, muito magro e de cabelos castanhos, curtos e penteados para cima. Ele usava uma calça jeans, coturnos e um casaco por cima. Não usava camisa, de modo que tinha o torso nu, coberto apenas pelo casaco aberto. Apesar da magreza cadavérica do homem, fiquei empressionada com a força dele. Ele conseguiu jogar meu cão pro lado e veio na minha direção, pronto pra me atacar também. Centímetros antes dele me tocar, eu pude ouvir as sirenes dos carros de policia se aproximando -  Geoff, sindico do prédio, tinha acompanhado tudo de sua sacada e chamou a policia. Só os Deuses sabem o que ele fazia na sacada, acordado a essa hora!

Quando os carros da policia já estavam estacionando e os primeiros policiais desceram, o sujeito esquisito saiu correndo. E pro meu azar, meu lindo Husky correu atrás dele, em uma fúria que eu nunca tinha visto em nenhum cachorro. Os policiais passaram a noite comigo aguardando noticias do meu cachorro, e nada. Eu o tinha perdido.

O bizarro é que... Mesmo tendo perdido um cachorro, eu sabia que ele ia voltar. E dito e feito, faltando uns 2 dias antes de eu ir viajar para o sítio da Lorena enquanto arrumava as malas, meu telefone tocou. Era o Caim. Caim humano, quero dizer. Ao telefone, ele tinha a voz cansada, e um tom meio desesperado por companhia. Quando ele chegou ao meu apartamento e abri a porta, fiquei chocada com o estado dele! Suas roupas estavam rasgadas, ele estava todo machucado e arranhando, tinha fome, frio e cansaço.

Liguei no dia seguinte perguntando a Lorena se poderia levá-lo ao sitio comigo. Ele queria muito ir. Na verdade, depois do episódio do Husky, tenho certeza de que o Caim não vai mais me deixar sozinha por nenhum segundo!

Ele prometeu que vai me contar o que aconteceu, e porque ele chegou na minha casa em estado lastimável. A caminho do sítio, notei que todos os machucados que ele tinha pelo corpo não passam, agora, de cicatrizes que vão sumindo com os dias. Sério, ainda não entendo o Caim. Que ele não é um simples taxista, ok, já deu pra notar. O que ele é?

A propósito, ele disse que sabe do cara que me atacou e vai me contar. Diz também que sabe do meu Husky e que eu não preciso me preocupar pois ele está seguro.

Eu mencionei que quando o Caim chegou em casa semi-morto ele tinha a coleira do meu cão nas mãos?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2010. - A tempestade e o Husky

Já faz dias que não vejo o Caim. Semanas, na verdade. Semanas que não o vejo, mas em compensação vi o Husky de novo. Na verdade, o tenho.

Eu estava voltando de um passeio à toa, em uma folga, quando começou a chover. Logo a chuva transformou-se em tempestade e... Achei que fosse o prenúncio de algo pior. Eu já estava perto de casa, mas mesmo assim abriguei-me em uma farmácia.

Custou alguns minutos até que eu conseguisse me adaptar a enxergar em meio a chuva para buscar pontos onde pudesse me abrigar enquanto corresse para casa. Eu já estava encharcada, e meu guarda-chuva (pobrezinho!) não estava dando conta de tamanho aguaceiro. Assim, notei que a chuva não passaria tão cedo, e eu ainda tinha bastante coisa para fazer em casa. Optei por enfrentar a tempestade e torcer para não pegar um resfriado!

Quando me decidi em sair da farmácia, antes de colocar o pé para fora do estabelecimento, eu o vi. Pêlos molhados, magro de fome, olhos azuis sem brilho e uma cara triste. Era o Husky que eu tinha visto rondando meu prédio e que me salvou de uns rapazes bêbados. O Husky que tinha o mesmo olhar interessante do Caim.

Não resisti. O Husky pedia ajuda. Atirei-me na chuva, e tratei de trazer o cachorro para o apartamento. Felizmente, meu prédio não proibe animais e com a desculpa de que eu o tinha adotado, levei-o ao meu apartamento. Sou apaixonada por cachorros, então não foi problema cuidar do Husky. Dei um banho nele, sequei-o, e encontrei algo para ele comer. Nesse primeiro dia, ele acabou com todo o meu estoque de carne, mas valeu a pena. Hoje ele está lindo e saudável.

O curioso é que ele não come ração. Só comida de gente mesmo. E nunca o vi passar mal comendo coisas que cães normalmente não comem. Desde o dia da tempestade, ele não saiu daqui. Levo-o para passear todos os dias, ele gosta quando leio para ele (tem uma preferência curiosa por literatura de terror e suspense), e dorme na cama comigo. Aos poucos, o brilho voltou aos seus olhos e eles passaram a transmitir uma sensação curiosa que eu só vejo nos olhos do Caim.

Aliás, dei um nome a ele. Caim.