sábado, 30 de outubro de 2010

Quinta-feira, 23 de setembro de 2010 - Reencontro

Sai do trabalho cansada, desmotivada e sem rumo. Não queria ir para a casa. Na verdade, eu não queria ir para a casa da minha mãe, pegar minhas coisas e levar para meu apartamento novo - eu nem tinha transporte adequado para isso! Foi chutando pedrinhas na calçada e absorta em meus devaneios que nem percebi o carro que me seguia. Era um táxi.


Quando o farol fechou e fui atravessar, o motorista do táxi buzinou e "piscou" para mim com os faróis do carro. Como reconheci o Caim em meio a tantos pensamentos, ainda me é um mistério. Acenei para ele, e como o carro estava vazio, entrei.


- Não é muito cedo para você dirigir?
- Não, porque diz isso? Ah, aliás, boa tarde para você também!
- São 16:00! Como você sai à luz do dia por ai?
- O que quer dizer?
- Você é um Vampiro.
- Ah, eu sou?
- Sim é. Tentou me morder uma outra noite, não foi? Ou você é um Vampiro ou é tipo... Um "wannabe" de Vampiro!!
- Se você diz que eu sou...
- Não tenho medo de você!
- É, noto isso. Fico contente que tenha algum tipo de afeto por mim a ponto de não me temer!
- Não sinto afeto por você! Deus, você é um Vampiro, como posso ter afeto por um morto vivo?!
- Ah, não sente afeto mas gosta de estar no meu carro!
- Bem, não é todo dia que se conhece um Vampiro que dirige um táxi! Um Vampiro que anda durante o dia, ainda! Você não pode ser um Vampiro!
- Você disse que eu sou.
- Mas não pode ser, Vampiros não andam durante o dia! Mas você bem que se parece com um...
- E então, já decidiu o que eu sou?
- Não. O que você é?


Ele não me respondeu, e limitou-se apenas a sorrir. A nossa discussão sobre o que ele era continuou até a casa da minha mãe.


- Como sabe que eu vinha até aqui?
- Bem, foi o endereço que você me deu naquela noite.
- Você me segue???
- Não. Mas posso segui-la se quiser.
- Se me seguir, eu chamo a policia.
- Não, não chama.


Eu não chamaria, e ele sabia. Desci do táxi, entrei na casa da minha mãe e peguei algumas caixas. Caim me ajudou a guardá-las no porta-malas, e levou-me para meu novo endereço, que nem era tão longe dali. Quando me dei conta, minha mão estava sangrando um pouco. Devo ter me machucado em uma das caixas. Felizmente não era algo grave, então o sangue não chegou a escorrer tanto. Quando chegamos ao meu apartamento, ele me ajudou com as caixas até a sala, e antes de ir embora retomamos a discussão do começo da tarde.


- Posso?
- O que?
- Cuidar desse machucado para você.
- Não é nada grave, mas obrigada. Devo ter arranhado em alguma caixa.
- Entendo.
- Não me olhe assim! É só um arranhão, nem sangrou muito! Vire esses olhos para lá, parece que quer me devorar!
- De certa forma... Eu bem que fico tentado.
- Oh meu deus! E você diz que não é um Vampiro!
- Não, você diz que eu sou um Vampiro.
- Você quer me comer! Você quer meu sangue!
- Quero, não nego.
- Viu como você é um Vampiro?
- Eu disse que quero, mas você sabe que não consigo.
- Se fosse um Vampiro, já teria me matado naquela noite.
- Sim. Mas não consegui.
- Por que?
- Você me entriga. E eu não sei porque. Mas eu vou descobrir.
- Você vai me morder um dia?
- Você quer que eu morda?


Enrubesci. Desde o nosso primeiro encontro, eu fantasio com a sensação de tê-lo mordendo meu pescoço. Ele riu vendo meu embaraço, aproximou-se, e com sua mão gélida como mármore segurou meu queixo. Eu não conseguia me mover, era como um transe observar aqueles olhos azuis tão claros. Por um momento achei que ele ia me beijar. Mas ao invés disso, sabendo com certeza que iria me provocar, beijou meu pescoço. Lábios frios como gelo que arrepiaram toda a minha nuca enquanto eu esperava uma mordida que nunca veio.


Ele sorriu mais uma vez, despediu-se e partiu.
E eu fiquei ali, parada, no meio da sala. Vampiro ou não, Caim era algo mais do que um simples motorista de táxi.

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