sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Inquisição. 14 de Dezembro de 1184

Tentei, com todo o cuidado do mundo, que aquela maldita porta não fizesse aquele maldito barulho que acordaria aqueles malditos cães que acordariam minha mãe, que, por fim, me irritaria com seus malditos comentários.

Malditos!

Encostei a mão na maçaneta e sussurrei para ela. "Vai ter que dar", pensei.

NHEEEEEEEEEEEEEEEEEEECCC!

- PORRA! - gritei!

Luzes se acenderam, os cães começaram a latir, e minha mãe veio berrando xingamentos em italiano - e entre os xingamentos, meu nome, é claro.

- Chiara! Quantas vezes eu já lhe disse?! Quantas vezes mais terei que repetir?!
- Ah mãe, me deixa! Não aconteceu nada! Eu sei me cuidar!! Ninguém anda nessa floresta a não ser nós! E gente como nós!
- Chiara!
- Mãe, está tudo bem! Eu sai para caminhar e perdi a hora! Veja, voltei antes das 3:33!
- Eu sei filha! Mas...
- O quê? Passei o dia na cidade, estava com as meninas, pode perguntar!
- O Cardeal esteve aqui, filha.

Empalideci. A presença do Cardeal em casa era pior do que qualquer castigo. Será que ele tinha descoberto?
Pela expressão serena da minha mãe, e pela calma anormal dela alguma coisa estava para acontecer ou alguma noticia ruim o Cardeal havia lhe dado. Fomos até a cozinha, acendemos algumas velas e nos sentamos. Minha mãe pegou dois cálices e uma garrafa de hidromel. Os cães haviam parado de latir e se deitaram embaixo da mesa.

- Filha, começou. Agora, mais do que nunca, você precisa parar com seus passeios noturnos. Não me olhe com essa cara, mas você precisa! O Cardeal disse que representantes da Espanha estão vindo ajudar nas buscas e caçadas. você está proibida de ficar fora de casa após às 18:00.
- Mas mãe, ninguém sabe de nada! E como farei com meus amigos?!
- Você pode vê-los até às 18:00 ou convidá-los para passar alguns dias aqui. A casa é grande, temos quartos disponíveis e nossos criados adorarão se ocupar com tarefas diferentes nesses dias que virão. E além do mais, eu gosto dos seus amigos! E os cães também!

Fiquei encarando minha mãe por vários minutos. Geralmente negociariamos a solução, mas dessa vez eu vi que não haveria negociação alguma. Ela havia se decidido, e só me restava agir conforme ela mandava.

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